27/05/16 - Você já imaginou como seria explorar a lua de Júpiter Europa, um mundo coberto por gelo?
Essa matéria faz parte da série especial 'Como seria viver em outros planetas?' Confira todos os episódios clicando aqui.
Já há muito tempo que o satélite natural de Júpiter, Europa, tem sido uma das maiores promessas para abrigar a vida como conhecemos. Mas quais seriam as experiências que astronautas exploradores experimentariam ao pisar nesse mundo encoberto por gelo?
Viver na superfície do planeta Júpiter seria muito difícil, ou talvez quase impossível. O gigante de gás tem um pequeno núcleo rochoso, com uma massa cerca de 10 vezes menos do que a da Terra, mas esse núcleo está envolto por hidrogênio líquido muito denso, com espessura de aproximadamente 90% do tamanho de Júpiter. Portanto, se você chegasse no núcleo rochoso de Júpiter, seria esmagado(a) instantaneamente pelo peso do hidrogênio líquido acima, segundo Robert Pappalardo, cientista planetário do Laboratório de Propulsão a Jato, da NASA.
A melhor escolha seria mesmo um de seus satélites naturais, ou seja, temos de escolher entre mais de 60 mundos que orbitam o gigante gasoso. Algumas dessas luas são plausíveis para abrigar uma base permanente. Com baixos níveis de radiação, estabilidade geológica e uma grande quantidade de gelo de água, Calisto poderia nos fornecer um local ideal para visitarmos, segundo o astrobiólogo da NASA, Steve Vance.
Por outro lado, acredita-se que uma outra lua de Júpiter, Europa, tenha uma quantidade gigantesca de água líquida abaixo de sua superfície. 8 naves espaciais já visitaram Europa, mas apenas 15% de sua superfície foi fotografada com uma resolução decente.
Os cientistas da NASA Steve e Robert estão trabalhando para criar um conceito de nave espacial capaz de visitar Europa futuramente. A missão, chamada Europa Clipper deverá fazer 45 rasantes na lua gelada, permitindo registrar imagens reveladoras de sua superfície.
Fotos feitas em missões anteriores sugerem que a superfície de Europa é relativamente lisa, com poucas grandes crateras e montanhas por conta da força da convecção de seu oceano, que altera a superfície constantemente. Mas ainda assim, andar pela sua superfície não seria uma tarefa isenta de desafios.
Se estivesse na superfície de Europa, você veria diversos picos com alguns metros de altura, que seriam suficientes para dificultar qualquer caminhada de exploração, isso sem contar com as rachaduras que riscam o globo. Essas rachaduras gigantescas seriam como abismos, e são resultados das forças de maré de Júpiter, que encolhe e estica o pequeno satélite, trincando toda a espessa camada de gelo.
Como Europa orbita Júpiter assim como a nossa Lua orbita a Terra (com um lado sempre virado para o planeta), o melhor local para se montar uma base em Europa seria no lado da frente, ou seja, aquele que leva a lua conforme ela orbita o planeta. Essa seria a melhor escolha porque a magnetosfera de Júpiter lança radiação mortal para suas luas, e ela é muito pior na parte de trás, em sua esteira orbital.
A primeira coisa que chamaria a nossa atenção seria, com certeza, ver Júpiter no céu. Estando na superfície de Europa, Júpiter seria cerca de 24 vezes maior do que a nossa Lua no céu da Terra. Uma visão espetacular! Mas talvez, a única coisa que nos faria entrar pra dentro da base rapidamente, sem "perder tempo" olhando Júpiter no céu seria o frio congelante de Europa. A temperatura média seria de -160°C próximo do equador, e -220°C perto dos polos.
Mas se conseguíssemos dar conta da radiação e do frio, outros perigos iriam nos assustar. Terremotos constantes deixariam qualquer um assustado, e não dariam sossego. Além disso, plumas de água congelante, como geyseres, criariam crateras novas a todo momento, lançando para bem longe pedaços de gelo que poderiam causar acidentes graves. Eventuais impactos de pequenos meteoritos também causariam preocupação.
Explorar os oceanos subterrâneos abaixo de sua espessa camada de gelo seria muito difícil. Inicialmente a única maneira seria através de sondas aquáticas. A exploração pelas profundezas através de submarinos tripulados seria ainda mais desafiadora, e colocar qualquer astronauta lá embaixo poderia ser fatal.
A gravidade de Europa é de apenas 13% a da Terra, o que resulta na falta de atmosfera. Por conta disso, assim como ocorre na Lua, Europa não teria alterações climáticas, ventos ou cores no céu. Fazer uma caminhada nessa lua gelada seria parecido como caminhar na Lua. Saltos mais altos seriam possíveis, e a menor necessidade de esforços físicos poderia prejudicar seriamente nossos músculos. Se ficássemos muito tempo por lá, teríamos sérios problemas ao retornar à Terra.
Se você quisesse se aventurar em um passeio, provavelmente iria visitar a região chamada "Chaos Terrain". Pelo nome do lugar já dá pra se ter uma ideia do que nos aguarda. Em Chaos Terrain, o gelo (que normalmente é plano) foi fragmentado em pedaços grandes, que se amontoaram criando um terreno quase impossível de ser explorado. Você também iria notar depressões e grandes cúpulas de gelo, que chegam a ter cerca de 1 quilômetro de altura.
Outra fato interessante é que os céus de Europa chamariam a atenção de qualquer astrônomo amador, que passaria horas observando outras luas de Júpiter percorrendo o céu, especialmente as maiores. Ganimedes, que é o maior satélite de Júpiter e de todo o Sistema Solar, apareceria no céu a cada 2 dias, mas lembre-se que um dia em Europa dura cerca de 3.5 dias da Terra. Ganimedes seria 1.5 vezes o tamanho da nossa Lua vista da Terra. Io, a terceira maior lua de Júpiter, apareceria no céu 2 vezes por dia, e seria visualmente maior do que Ganimedes, por conta de sua proximidade.
Com tantos cenários diferentes e luas estranhas no céu, inevitavelmente você iria fotografar tudo e encheria seu cartão de memória rapidamente. Mas se quisesse compartilhar suas fotos com seus amigos e familiares aqui na Terra, seu e-mail levaria pelo menos 30 minutos para chegar ao destino. Isso sem contar com as interrupções de comunicações, pois durante algumas horas do dia, Júpiter estaria bloqueando a visão entre Europa e o planeta Terra, impossibilitando qualquer comunicação.
Ou seja: mesmo que você enviasse uma mensagem para a Terra no momento certo, as pessoas que respondessem sua mensagem deveriam fazer isso na hora correta também, caso contrário, a mensagem seria bloqueada pelo gigante de gás antes de chegar até você...
Imagens: (capa-ilustração/Galeria do Meteorito) / NASA / JPL-Caltech / SETI Institute / Galeria do Meteorito
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Essa matéria faz parte da série especial 'Como seria viver em outros planetas?' Confira todos os episódios clicando aqui.
Já há muito tempo que o satélite natural de Júpiter, Europa, tem sido uma das maiores promessas para abrigar a vida como conhecemos. Mas quais seriam as experiências que astronautas exploradores experimentariam ao pisar nesse mundo encoberto por gelo?
Viver na superfície do planeta Júpiter seria muito difícil, ou talvez quase impossível. O gigante de gás tem um pequeno núcleo rochoso, com uma massa cerca de 10 vezes menos do que a da Terra, mas esse núcleo está envolto por hidrogênio líquido muito denso, com espessura de aproximadamente 90% do tamanho de Júpiter. Portanto, se você chegasse no núcleo rochoso de Júpiter, seria esmagado(a) instantaneamente pelo peso do hidrogênio líquido acima, segundo Robert Pappalardo, cientista planetário do Laboratório de Propulsão a Jato, da NASA.
A melhor escolha seria mesmo um de seus satélites naturais, ou seja, temos de escolher entre mais de 60 mundos que orbitam o gigante gasoso. Algumas dessas luas são plausíveis para abrigar uma base permanente. Com baixos níveis de radiação, estabilidade geológica e uma grande quantidade de gelo de água, Calisto poderia nos fornecer um local ideal para visitarmos, segundo o astrobiólogo da NASA, Steve Vance.
Por outro lado, acredita-se que uma outra lua de Júpiter, Europa, tenha uma quantidade gigantesca de água líquida abaixo de sua superfície. 8 naves espaciais já visitaram Europa, mas apenas 15% de sua superfície foi fotografada com uma resolução decente.
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Europa, lua de Júpiter. Créditos: NASA / Jet Propulsion Lab-Caltech / SETI Institute Clique na imagem para ampliar |
Os cientistas da NASA Steve e Robert estão trabalhando para criar um conceito de nave espacial capaz de visitar Europa futuramente. A missão, chamada Europa Clipper deverá fazer 45 rasantes na lua gelada, permitindo registrar imagens reveladoras de sua superfície.
Fotos feitas em missões anteriores sugerem que a superfície de Europa é relativamente lisa, com poucas grandes crateras e montanhas por conta da força da convecção de seu oceano, que altera a superfície constantemente. Mas ainda assim, andar pela sua superfície não seria uma tarefa isenta de desafios.
Se estivesse na superfície de Europa, você veria diversos picos com alguns metros de altura, que seriam suficientes para dificultar qualquer caminhada de exploração, isso sem contar com as rachaduras que riscam o globo. Essas rachaduras gigantescas seriam como abismos, e são resultados das forças de maré de Júpiter, que encolhe e estica o pequeno satélite, trincando toda a espessa camada de gelo.
Como Europa orbita Júpiter assim como a nossa Lua orbita a Terra (com um lado sempre virado para o planeta), o melhor local para se montar uma base em Europa seria no lado da frente, ou seja, aquele que leva a lua conforme ela orbita o planeta. Essa seria a melhor escolha porque a magnetosfera de Júpiter lança radiação mortal para suas luas, e ela é muito pior na parte de trás, em sua esteira orbital.
A primeira coisa que chamaria a nossa atenção seria, com certeza, ver Júpiter no céu. Estando na superfície de Europa, Júpiter seria cerca de 24 vezes maior do que a nossa Lua no céu da Terra. Uma visão espetacular! Mas talvez, a única coisa que nos faria entrar pra dentro da base rapidamente, sem "perder tempo" olhando Júpiter no céu seria o frio congelante de Europa. A temperatura média seria de -160°C próximo do equador, e -220°C perto dos polos.
Mas se conseguíssemos dar conta da radiação e do frio, outros perigos iriam nos assustar. Terremotos constantes deixariam qualquer um assustado, e não dariam sossego. Além disso, plumas de água congelante, como geyseres, criariam crateras novas a todo momento, lançando para bem longe pedaços de gelo que poderiam causar acidentes graves. Eventuais impactos de pequenos meteoritos também causariam preocupação.
Explorar os oceanos subterrâneos abaixo de sua espessa camada de gelo seria muito difícil. Inicialmente a única maneira seria através de sondas aquáticas. A exploração pelas profundezas através de submarinos tripulados seria ainda mais desafiadora, e colocar qualquer astronauta lá embaixo poderia ser fatal.
A gravidade de Europa é de apenas 13% a da Terra, o que resulta na falta de atmosfera. Por conta disso, assim como ocorre na Lua, Europa não teria alterações climáticas, ventos ou cores no céu. Fazer uma caminhada nessa lua gelada seria parecido como caminhar na Lua. Saltos mais altos seriam possíveis, e a menor necessidade de esforços físicos poderia prejudicar seriamente nossos músculos. Se ficássemos muito tempo por lá, teríamos sérios problemas ao retornar à Terra.
Se você quisesse se aventurar em um passeio, provavelmente iria visitar a região chamada "Chaos Terrain". Pelo nome do lugar já dá pra se ter uma ideia do que nos aguarda. Em Chaos Terrain, o gelo (que normalmente é plano) foi fragmentado em pedaços grandes, que se amontoaram criando um terreno quase impossível de ser explorado. Você também iria notar depressões e grandes cúpulas de gelo, que chegam a ter cerca de 1 quilômetro de altura.
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Créditos: Galeria do Meteorito |
Outra fato interessante é que os céus de Europa chamariam a atenção de qualquer astrônomo amador, que passaria horas observando outras luas de Júpiter percorrendo o céu, especialmente as maiores. Ganimedes, que é o maior satélite de Júpiter e de todo o Sistema Solar, apareceria no céu a cada 2 dias, mas lembre-se que um dia em Europa dura cerca de 3.5 dias da Terra. Ganimedes seria 1.5 vezes o tamanho da nossa Lua vista da Terra. Io, a terceira maior lua de Júpiter, apareceria no céu 2 vezes por dia, e seria visualmente maior do que Ganimedes, por conta de sua proximidade.
Com tantos cenários diferentes e luas estranhas no céu, inevitavelmente você iria fotografar tudo e encheria seu cartão de memória rapidamente. Mas se quisesse compartilhar suas fotos com seus amigos e familiares aqui na Terra, seu e-mail levaria pelo menos 30 minutos para chegar ao destino. Isso sem contar com as interrupções de comunicações, pois durante algumas horas do dia, Júpiter estaria bloqueando a visão entre Europa e o planeta Terra, impossibilitando qualquer comunicação.
Ou seja: mesmo que você enviasse uma mensagem para a Terra no momento certo, as pessoas que respondessem sua mensagem deveriam fazer isso na hora correta também, caso contrário, a mensagem seria bloqueada pelo gigante de gás antes de chegar até você...
Imagens: (capa-ilustração/Galeria do Meteorito) / NASA / JPL-Caltech / SETI Institute / Galeria do Meteorito
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